segunda-feira, 19 de abril de 2010

Seres ou não seres?

O jornalista é um contador de história. Quase nunca é um conto de fadas, nem sempre com um final feliz. Sou obrigado a ver, diariamente, casos absurdos que revelam o lado animalesco e bizarro de seres humanos. Humanos?

O cenário é uma rua num bairro pobre de Maceió. O personagem principal é um homem novo, com seus vinte e poucos anos. De coadjuvante, uma senhora que foi agredida pelo personagem principal. Ela levou um murro na cara, desmaiou e foi parar no hospital.

Ele está deitado no chão, cercado por dezenas e dezenas de pessoas, que lhe chutam o rosto, o abdômen, as costas e qualquer outra parte do corpo que alcancem. Na boca, sangue. Nos olhos, sangue. No rosto, sangue. Na camisa, sangue. Na população, o desejo de ver sangue.

De figurante, um jornalista cobre o fato, sem poder deter a fúria de uma comunidade, que não agüenta mais ver casos como este e faz justiça com as próprias mãos, com os próprios pés. Por vezes, até pegam uma pedra ou outra emprestada.

Que tipo de bicho é esse? O bicho homem, criado por... quem? Deus ou diabo?

3 comentários:

Francisco Filho disse...

Eu nunca sei o que é mais grotesco. Qual das agressões é mais chocante. Porque, de um ponto de vista utópico, nenhuma das duas pode ser certa! Nem a "homem-senhora" e nem a "comunidade-homem". E eu com meus conceitos nunca consigo dizer qual é "menos pior". Talvez é porque não haja diferença alguma...

Quem me garante que a violência do jovem rapaz já não é uma resposta a uma violência mais silenciosa? A da gente rica (em instâncias de poder) que promove fome e miséria em todo o Estado? Essa sim, é a fonte de toda a violência: a injustiça social, que gera a violência do rapaz e a da comunidade que não tem policiamento/educação/esperança.

Jan Ribeiro disse...

Profissãozinha cruel essa que a gente escolheu. Fico me perguntando até que ponto a gente tem de ficar somente como observador, ou melhor, como urubus em cima da desgraça dos outros. Se o repórter é assim que dirá o repórter fotográfico que depende de boas imagens para ter o seu trabalho valorizado!? Parabéns pelo blog!

Patricia disse...

Falta muita humanidade no ser humano.