quinta-feira, 31 de julho de 2008

Coisa nossa

Imagine que você é, vamos ver, um vendedor de loja. Você tem uma meta a bater e vai trabalhar um mês inteiro na direção dela. O último dia do mês chegou e você ainda não bateu a cota, mas sabe que uma peça de roupa vendida pode salvar seu pescoço. Então, usa toda a sua lábia, gasta litros de saliva tentando convencer àquele cliente chato de que o produto é o melhor da região. O cliente vai embora com o produto e você fica radiante porque, enfim, você conseguiu atingir a meta que os seus superiores exigiam. Mas, um problema técnico que independe de você apareceu e, como num passe de mágica, todos os dados sumiram do computador. Sim, todas aquelas incontáveis horas vendendo produtos, todos aqueles clientes chatos, todos os sorrisos forçados que você deu pra fidelizar um cliente foram em vão. Você trabalhou pra nada.

Agora, mudemos de cena. Você virou um atendente de telemarketing. Daqueles de tirar dúvidas e ouvir reclamações. Você acordou duas horas da manhã e vai entrar no trabalho às três da madruga - malditos serviços vinte e quatro horas. Um dia antes você tinha chegado em casa morto, acabado, maltrapilho, cansado. Não recarregou totalmente as energias mas tava dando um jeito, afinal, é seu trabalho. E aí você chega no local, dá bom dia - ou boa madrugada - pra todo mundo, senta na sua cadeirinha, põe o fone no ouvido e... "opa, o que acontece com a linha?". É, a linha caiu. Você não pode voltar pra casa porque tem que esperar o sistema voltar ao ar, não pode dormir porque alí é local de trabalho e tudo o que você queria era não ter levantando da cama. Você fez a maior força pra chegar ao trabalho e não conseguiu trabalhar.

É mais ou menos como trepar e não gozar - perdoem a comparação. Você se sente desvalorizado, revoltado, humilhado de ter passado o dia inteiro com equipe na rua, equipe na base, um milhão de ligações no telefone, um monte de gente falando ao mesmo tempo com você, três televisores ligados e você atento a tudo o que a concorrência tá colocando no ar, na expectativa de fazer melhor, de dar o melhor de si, no comprometimento de que aquilo PRECISA ir pro ar. Chega na hora, pufff: "A toaster queimou. Não tem jornal".

Infelizmente, é coisa nossa.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Passei na casa, seu José não estava.

terça-feira, 15 de julho de 2008

A Infraero informa...

Era um fim de noite tranquilo naquela saleta de redação de telejornal. O programa acabara de ir ao ar com as matérias mais quentes do dia e a reunião de pauta chegava ao seu término. O clima já era de despedida quando entra ninguém-sabe-quem esbaforido, com a notícia mais inesperada do dia inteiro: "CAIU UM AVIÃO. UM BIMOTOR. PERTO DO AEROPORTO. ACABEI DE OUVIR NO RÁDIO DA POLÍCIA!"
Nem preciso dizer que a pauta acertada havia ido pras cucuias, o ensaio de despedida tinha sido abortado e agora a primeira ação era apurar informações.
Nessas horas, todo mundo vira um polvo e tem seus oito braços. Com um telefonema, a equipe já havia sido enviada ao local do acidente. Um grito aqui e o estúdio havia sido reaberto, as luzes religadas e os equipamentos reativados. Só faltava lincar o repórter com a base, preparar a vinheta de abertura e cortar a programação da rede. Lá estaríamos nós dando em primeira mão a notícia que ia ser assunto em todas as rodinhas de cerveja e todas as pausas para o cafezinho. E, lógico, era pauta certa para o resto da semana.
A primeira ligação foi para a Infraero. Chama o telefone, a atendente começa a conversa.
- Infraero, boa noite.
- Oi, quem fala?
- Fulana
- Oi Fulana, aqui é Arthur, da Tv Alagoas - SBT, tudo bem?
- Tudo
- A gente acaba de receber a notícia de que um avião bimotor acabou de cair aí no aeroporto. Procede?
- Ahn? É.... (segundo de silêncio). Um minuto, vou passar para o meu supervisor.
Apertei a teclinha de "mute" e mandei as primeiras informações pra galera que, neste momento estava apreensiva e impaciente por não poder ir pra casa.
- ATENÇÃO! ELA VAI ME PASSAR PARA O SUPERVISOR!!
E nada de o supervisor atender. Minha mente maquinava, a respiração aumentava de ritmo. Lógico que o supervisor não ia atender. Afinal, um avião tinha caído. Ele não ia ficar esperando a imprensa ligar. O caos estava instalado na Infraero e o responsável não iria ficar prestando esclarecimento a um estagiário de televisão.
Desliguei. Eu precisava de alguém que me confirmasse a queda de um avião. Liguei na SAMU (e dessa vez eu lembrei o número*).
- Atendimento SAMU.
- Boa noite, quem fala?
- Fulana.
- Oi, Fulana. Aqui é o Arthur, da Tv Alagoas - SBT, tudo bem?
- Hum... (não devia estar tudo bem.)
- A gente recebeu a informação de que um avião tinha caído nas proximidades do aeroporto Zumbi dos Palmares. Vocês foram acionados? Estão sabendo de alguma coisa?
Em tom de riso, ela mandou um assim - Avião? Caiu? Espera aí, tá?
Apertei a teclinha de "mute" de novo. Falei com a redação - Gente, a mulher riu da minha cara.
Enquanto todos aguardavam o resultado da ligação o dono da emissora entra na redação bem eufórico. Afinal, como eu já disse antes, íamos dar a notícia em primeira mão. Isso queria dizer que, no jargão tevealagoano, iríamos "dar um pau na Pajuçara".
Enquanto os outros falavam sobre a transmissão, eu me forçava para concentrar na conversa da atendente da SAMU com uma outra pessoa, que continuava a rir, dizendo alguma coisa como "O menino da tv Alagoas tá querendo saber se caiu um avião", como se eu tivesse dito a coisa mais absurda do mundo. Logo depois ela volta a falar comigo. Só aí tirei o dedo do "mute".
- Senhor...
- Ahn?
- Ó, o que eu soube aqui é que está havendo um treinamento do Corpo de Bombeiros. A equipe foi acionada sim, mas foi só um treinamento.
- Ahn... tá. Tá bom.
Intimamente eu não tinha me conformado, mas não queria chamar a pobre atendente do SAMU de mentirosa. Comuniquei à redação. Ainda bem que todos pensaram como eu e não se conformaram. Para nós, já era obvio de que o avião realmente havia se espatifado no chão e que corpos em chama e um monte de ferro retorcido seriam a manchete do dia seguinte.
Ligamos para um dos repórteres, que também achou estranho: "Treinamento de noite? Não existe. Corre pra lá, monta o link, vamos entrar ao vivo!".
Eu estava impaciente. Teria que esperar a equipe de reportagem chegar lá para ter a confirmação, enfim? É. Teria. Ou melhor, teria - no passado - até meu cérebro estalar: LIGA PRO CORPO DE BOMBEIROS, HOMEM DE DEUS!
Um grito de pressa desesperada saiu: QUAL A PORRA DO NÚMERO DO BOMBEIRO?
Antes de ouvir a reposta, lembrei do 193. Só que desta vez a pergunta ia ser diferente:
- Corpo de Bombeiros...
- Boa noite, quem fala?
- Fulano. (Dessa vez era homem)
- Oi Fulano, aqui é o Arthur, da Tv Alagoas - SBT, tudo bem?
- Opa, meu amigo. Diga lá. (Talvez também não estivesse tudo bem com ele).
- Fulano, está acontecendo um treinamento de vocês agora lá no aeroporto?
- É. Um treinamento. De rotina, sabe?
- (Desapontado) Ah, sei. Tá bom então. Obrigado, boa noite.
Virei pra editora e sugeri com o máximo de desânimo: Manda a equipe cobrir o treinamento pra não perder a viagem então.
E lá se foi a nossa equipe, cobrir treinamento do Corpo de Bombeiros. Lá se foi a nossa esperança de dar a notícia primeiro. Ou melhor, restava uma última cartada: "O jornal da Pajuçara tá começando! Aumenta a tv!!".
E só aí a idéia foi abortada. O avião era alarme falso.
Só aí percebi o quanto eu estava feliz com a notícia que poderia significar a morte de algumas pessoas. Mas o sangue do jornalista falou mais alto na hora. A adrenalina subiu, os olhos brilharam, o sorriso abriu. Tudo isso foi inevitável. Acontece com todo jornalista (seja ele formado ou não).
Mas pelo menos a Pajuçara também não deu pau na gente.
*Não entendeu? Clique aqui.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

À Senhora Polícia Federal

Venho através deste, solicitar à vossa senhoria que, ao realizar uma operação de tal magnitude, levando à prisão pessoas de tão alta patente e periculosidade, tente ser um pouco menos cansativa.
Peço também, encarecidamente, que tais operações sejam realizadas com um regular período de tempo entre uma e outra.
Resumindo: Vê se demora mais um pouquinho pra prender esses filhos da p@$#, porque o coração velho não aguenta correr tanto!
Atenciosamente,
Eu.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Aí vai mais uma matéria que eu ajudei a compor. Essa, foi feita em dupla: Eu e a Rachel. Foi sobre o início do período de festas juninas. Quisemos puxar de volta a tradição de palhoções e reuniões familiares ao redor da fogueira, indo contra ao novo costume de juntar uma galera jovem no carro e ir às festas do interior do Estado. Ficou bem legal.

Se tiver alguma dúvida sobre os termos, tem um pequeno glossário aqui!

ESTÁ OFICIALMENTE ABERTA A TEMPORADA DAS FESTAS JUNINAS// A VÉSPERA DE SANTO ANTÔNIO NA CIDADE MOSTROU QUE AS TRADIÇÕES NO MÊS DE SÃO JOÃO CONTINUAM MAIS VIVAS DO QUE NUNCA///

#RODA VT: 1' 23''

DEIXA: "... EU GOSTO MUITO DE SÃO JOÃO" (NA MARIA ISABEL)

OFF 1: PARA CELEBRAR O SANTO CASAMENTEIRO/ AS IGREJAS GANHARAM UMA DECORAÇÃO ESPECIAL// COM MÚSICA E PRECES/ DEVOTAS DO PADROEIRO DOS POBRES AGRADECERAM AS BÊNÇÃOS ALCANÇADAS//

SONORA SÔNIA DE MORAES - DONA DE CASA

OFF 2: NOS BAIRROS DA CAPITAL/ AS BARRACAS DE COMIDAS TÍPICAS COMEÇAM A APARECER// A BELEZA DAS QUADRILHAS ATRAI CRIANÇAS/ JOVENS E ADULTOS// DONA JOSEFA SE ORGULHA DE CONTRIBUIR COM A FESTA// TODOS OS ANOS ELA É ENCARREGADA DE COSTURAR OS VESTIDOS RODADOS//

SONORA JOSEFA PEREIRA - COSTUREIRA

OFF 3: NA VÉSPERA DE SANTO ANTÔNIO HÁ TAMBÉM QUEM PREFIRA A LUZ DA FOGUEIRA// NA FAMÍLIA SANTOS SILVA A TRADIÇÃO ATRAVESSA GERAÇÕES//

SONORA - ANDRÉ SILVA - ESTUDANTE

SONORA - MARIA ISABEL DOS SANTOS - APOSENTADA

terça-feira, 8 de julho de 2008

Lição do dia


Cada dia é um novo dia. Só é uma pena que cada hoje não seja melhor que cada ontem, mas a gente chega lá!
Retrato de um bom dia. Um dia muito bom.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Apertem os cintos...

... o piloto sumiu.

E agora, me vem na cabeça um "te vira que você não é quadrado".

A vida é mesmo assim. Bola pra frente. Inspira, respira e vamos que vamos!

terça-feira, 1 de julho de 2008

"Catapimba e a mulher foi ao chão"

No meio da Fernandes Lima, às quase sete da noite, uma mulher foi atropelada por uma moto. Como eu sei disso? É que foi bem na minha frente.

Eu estava indo pra casa, tentando relaxar no caótico trânsito da avenida, quando eu olho pro meu lado direito. A cena era essa: Duas mulheres com algumas sacolas plásticas penduradas nos braços desceram do ônibus e iriam atravessar as três faixas da avenida enquanto os carros estavam parados no semáforo. Elas atravessaram uma e, na hora de passar da segunda para a terceira, não viram uma moto - sempre uma moto - que, por sua vez, também não as viu. Um ônibus - sempre um ônibus - atrapalhou a visão de ambos. Catapimba e a mulher foi ao chão.
Demorei coisa de três segundos pra entender a cena que acabara de se desenrolar na minha frente. E demoraria até um pouco mais se minha mãe - sempre a minha mãe - não tivesse se movido no carro, desatando o cinto de segurança, abrindo a porta e dizendo "Prestar socorro! Prestar socorro! ".

Desatei o cinto, abri a porta, tirei o telefone do bolso e, qual é mesmo o telefone da SAMU? Nessas horas a pessoa esquece. Deu um branco. O único número que me veio à cabeça foi o 190. Então, foi pra esse que eu liguei. Nem chegou a chamar e eu desliguei o telefone. Alí, eu queria ser três pessoas e fazer tudo ao mesmo tempo. Minha mãe pegou o meu telefone e ligou pra SAMU (dessa vez, de verdade) e eu fui tirar meu carro dalí - afinal, tive que atrapalhar o trânsito.

Quando voltei, a cena já tinha mudado. A mulher estava lá deitada no canteiro da pista, com um homem a examinando. Era um médico que também parou pra prestar socorro. O diagnóstico dele foi rápido: Fratura de fíbula.

O médico foi embora e eu também. Afinal, já não havia mais o que fazer. A mulher ficou na companhia da amiga que já estava com ela na hora do atropelamento, a SAMU já estava a caminho e eu estava um bagaço de cansado.
O conteúdo daquelas sacolas virou farinha no asfalto. E o motoqueiro? Ninguém sabe.