Naquele domingo, o avião decolou de Maceió perto das cinco da manhã. Quatro horas mais tarde chegaríamos – minha irmã e eu – ao aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, para uma jornada de 12 horas de espera pelo próximo vôo. E assim esperamos à exaustão. Não víamos a hora de decolar do solo brasileiro e cruzar a fronteira. As horas, porém, passaram com um pouco mais de alegria com a presença de um antigo amigo cibernético, que nos fez companhia por várias horas de riso e conversa – mais tempo tivesse.
(Chega uma hora que tudo incomoda: Levantar dói o pé e sentar dói o joelho; Olhar pra baixo dá dor de cabeça e olhar cima dói o pescoço. Qualquer ambiente parece barulhento demais e todo mundo vira chato. Na cabeça, a imagem do quarto do hotel)
Finalmente a hora do embarque chegou e lá fomos nós, fazer o check-in. Pouco depois, estávamos sentados nas poltronas 31 A e B do vôo AM 15. E como se as doze horas de espera não fossem suficientemente cansativas, as outras nove de ‘vuelo’ somavam mais cansaço. Àquela altura, eu só pensava em chegar.
(O que as empresas têm contra a idéia de comissárias jovens em vôos internacionais? As mal humoradas aerovelhinhas parecem sempre perto de aposentar.)
Depois de nove horas a mais e 25 graus a menos, chegamos à Cidade do México. O que não significava fim de linha. Ainda faltavam 4 horas de espera num frio de cinco graus – com direito a ‘fumaçinha’ saindo da boca – e, lógico, mais duas horas de vôo. Depois de 24 horas sem descanso, duas míseras horinhas pareciam uma eternidade. A cada minuto Cancun parecia mais longe.
(Valia de tudo para tentar esquentar: Casaco, litros de chocolate ‘caliente’, tempo extra no secador de mão do banheiro e caminhadas sem rumo certo.)
Não sei se, da janelinha do avião, Cancun parecia bonita por realmente ser bonita ou pelo simples fato de ela, enfim, ter chegado. O resto do dia foi feito para dormir.
Ao acordar, na segunda-feira, pudemos ver a cidade com olhos de bom-humor. E aí deu pra notar: É lindo porque é lindo mesmo. O mar e suas sete tonalidades de azul diferentes se confundem, no horizonte, com o céu limpo.
O segundo dia foi inteiro de passeio. Xcaret é um lugar lindo, construído pra encher os olhos de qualquer um. Golfinhos, arraias, peixes-boi, flamingos, borboletas e até morcegos, além de várias espécies de orquídeas e um espetáculo cultural, que mais parece uma super produção, pontuaram o dia.
(Tudo é caro. Tudo! Uma mísera foto segurando uma arara idiota custa 15 dólares. Logo logo descobrimos que, se ficássemos convertendo tudo para moeda nacional, não compraríamos nada. O jeito foi gastar as burras mesmo.)
Chegamos cansados no hotel. De novo. Cancun cansa mais do que o dia-a-dia.
Dia livre! Podíamos fazer o que quiséssemos (Eu vou parar de falar em ‘nós’. O verbo dá fica feio) o dia inteirinho. Fazer o que, então, senão gastar? Ah... antes, lógico, um mergulho no mar azul. Que, descobri depois, era azul, gelado e cheio de pedra. Era melhor ficar só olhando mesmo.
Almocei – ô comida RUIM – e fui num lugar chamado Plaza La Isla. Sem dúvida, o shopping mais formoso, apesar de não ser o mais requintado. Aberto, como se fosse uma vila, lojas famosas e não tão famosas se encontravam lá. Puma, Nike e Zara dividem lugar com artesanato local e roupas mais baratas (comprei um casaco legal por 30 dólares. No precinho!). A maior loja é o Aquarium. Como o próprio nome já diz, é um aquário cheio de peixes, arraias, tubarões, além de mergulho com golfinhos. O show dos golfinhos, anunciado no sistema de som a cada meia hora (“Delfines, siii...”), começa às seis da noite.
(Confesso que não gostei tanto dos golfinhos. Bichinho bobo. A sincronia do nado, dos pulos e acrobacias, no entanto, encantam até aos mais céticos. Eles merecem aplausos.)
Cozumel. Vamos a Cozumel. Aliás, se pudesse escolher, eu preferia outro dia livre. Cozumel é dispensável em alguns aspectos. O melhor de lá, sem dúvida, é o mergulho. Água clara, cristalina. Podíamos ver o fundo do mar a metros de profundidade sem nem encostar na água. É quase que incontrolável a vontade de levar os peixes pra casa. Belas espécies se encontram por ali, além dos maiores navios de cruzeiro. Embasbacante.
Tirando o mar, a ilha mais parece o centro de qualquer cidade. Lojas sem brilho, com vendedores na porta convidando – e intimidando – clientes a entrar, os carros quase passando por cima dos pedestres, uma praça mal arrumada. Alguns bares, no entanto, são charmosos e convidativos. A melhor opção, sem dúvida, é a volta pro hotel.
Cheguei no hotel, tomei banho e já estava arrumado de novo, pronto para ir à melhor boate que já vi na vida. Uma tal de CocoBongo (Sim, a do Máscara.). Não era bem uma boate, ou não era SÓ uma balada. Era algo meio “Las Vegas é bem aqui”. Shows e apresentações de deixar todos – TODOS – de boca aberta.
A volta pro hotel foi andando. Nada mais tranqüilo do que caminhar por ali de madrugada. Dá pra ouvir o silêncio cantando no ouvido. Ele, no entanto, era cortado a cada cinco minutos por um taxista oferecendo seus serviços e dizendo que fazia um bom preço.
(Eles não se conformam com um ‘non, gracias’. Na maioria das vezes é preciso se fingir de surdo e continuar caminhando.)
O penúltimo dia também foi livre. Aproveitei pra andar mais e mais pela cidade, dar uma olhada nos e-mails (ô vício), comprar e descansar. Fui ao La Isla de novo, conheci outros shoppings e voltei pro La Isla. Por lá fiquei até o pôr do sol, tomando chocolate quente, admirando a vista e ouvindo Bon Jovi.
O último dia chegou e já nos despedíamos de Cancun com saudades. Ficaria mais uma semana por lá sem reclamar. Mas alegria de pobre dura pouco, e a realidade chamava desesperadamente.
A sina de conexões demoradas continuava a perseguir, mas com a ajuda e o ânimo do pessoal da excursão, tudo ficou bem mais fácil.
Enfim, o Brasil. De Cancun restam lembranças,